PARTE II: UM PASSEIO NO CLIC!



UMA CASA DE ANTIGAMENTE 

O Clic! ocupa um terreno de aproximadamente 1.200 metros quadrados na Rua Campanha, no Bairro Carmo, na zona sul de Belo Horizonte. A construção, antiga, sobrevive entre altos edifícios erguidos nas últimas décadas; na verdade, são duas construções principais: a casa da frente e a casa de trás, além da casa do zelador e outros cômodos. A entrada é por um portão de garagem em forma de grade, seguido de uma rampa, interrompida por um murinho e um portãozinho. Quem chega não passa dali, embora possa ver a meninada brincando.

“Isso é importante para preservar as crianças que ficam no horário integral”, explica Dri. “Em outros espaços, os pais levam o filho até a sala, conversam com a professora, buscam na sala. Aqui isso não é possível porque muitas crianças ficam o dia todo. Elas estão fazendo o esforço de resolver suas coisas sem o apoio do pai e da mãe. Se os pais entram quando vêm trazer crianças de meio horário, as outras veem, e isso causa certo constrangimento afetivo: ‘Por que meu pai não está aqui?’ É difícil pra criança entender o horário de trabalho e a disponibilidade de cada um.”

Ao subir a rampa, vemos canteiros laterais, onde, conforme a época do ano, há morangos, berinjelas, tomates, cenouras, rabanetes, alfaces, couves, hortelãs, funchos, cavalinhas, girassóis... Foram plantados pelas crianças, na oficina de horta, e são regados diariamente pelos diversos grupos. Talvez vejamos também roupinhas, brinquedos e objetos variados estendidos numa plataforma, como se quarassem ao sol. São coisas que as crianças largaram pela casa afora e que estão à espera do reconhecimento pelo dono ou seus pais, depois de passarem uma temporada no baú de achados e perdidos.

A fachada da casa é pintada de amarelo, cor predominante nas instalações do Clic! Na frente dela, há dois canteiros com arbustos, flores e mudas plantadas na Festa da Primavera. A entrada é por um alpendre em cujos degraus as crianças gostam de sentar. 

Tudo no Clic! é simples, mas tem significado. O Clic! conserva o aspecto de uma casa grande e velha, daquelas de antigamente, onde muitas gerações de belo-horizontinos cresceram. Casa com quintal, terreiro, jardins, com grandes e pequenos espaços, e muitos cantinhos, que servem de esconderijo e de recolhimento para as crianças, no seu contínuo e cíclico brincar. O nível mais alto da casa em relação à rua a protege. Quatro imensas árvores – duas mangueiras, um jambeiro e um flamboyant – abarcam o pátio com sombra aconchegante. O principal espaço de brincadeiras é formado por uma área cimentada e outra gramada; nesta, estão um trepa-trepa, um escorregador, um cavalo de pau, uma grande manilha e uma casinha.

Assim como o muro alto da casa esconde o fervilhar de crianças brincando, o caos aparente da algazarra esconde ordem e harmonia, sob o controle de educadores admiravelmente serenos e atentos, como anjos da guarda visíveis e ativos.

Um barracão junto à entrada abriga um depósito e uma pequena sala de reuniões. Mais adiante vemos duas jabuticabeiras sem folhas, aparentemente mortas – uma delas, porém, ainda dá frutos e a outra é suporte de um maracujazeiro que brotou e cresceu no canteiro de compostagem preparado pelas crianças; o pé é chamado de jabuticujá.

É provável que vejamos algum menino dependurado num galho. A meninada do Clic! adora subir em árvores. “Como é que eu sei o que é uma jabuticabeira? Tem que subir, chupar a fruta, sentir o cheiro das flores, experimentar. Só falar, corre o risco de errar de árvore. A criança pode aprender as coisas por ela mesma e tem vários caminhos para isso”, observa Dri.

Subir, descer, correr, pular, agarrar, chutar... Brincar tem riscos. As crianças do Clic! caem, arranham-se, cortam-se, machucam, choram, como todas as crianças que brincam. Quando isso acontece, são amparadas pelos educadores e por amigos solidários e carinhosos. Logo levantam, enxugam as lágrimas, esquecem e voltam a brincar. Quando chegam em casa, exibem arranhões e contusões, e contam histórias confusas aos seus pais – é cativante vê-las, de olhos brilhando e fala emocionada, narrando suas aventuras diárias com os amigos.

Do lado da casa, o que no passado da residência familiar terá sido uma garagem (o Clic! não tem estacionamento, esse espaço privilegiado nos imóveis contemporâneos) é hoje um galpão, onde acontecem oficinas e atividades artísticas. No fundo, há uma plataforma lotada de materiais de artes e sucatas e que eventualmente serve de palco. É também no galpão que ficam os armários com escaninhos individuais, onde as crianças maiores guardam suas coisas: roupas para troca, caderneta, uma sacola, um brinquedo, pedras, folhas, bichinhos descobertos no pátio... Quando a criança chega, vai direto ali pôr sua bolsa, sua mochilinha; ao sair, passa lá para pegá-la.

Do galpão se tem acesso aos fundos da casa, onde fica o refeitório: uma espécie de varanda, com duas mesas grandes e baixas, bancos coletivos e uma pia baixinha, com cinco torneiras. Um corredor leva a dois banheiros infantis e à lavanderia. Do refeitório sobe-se por uma rampa para a “casa de trás”, a casa dos pequenos, não sem antes passar por uma horta, na qual João planta verduras para as refeições.


ESCANINHOS, COISINHAS E SEGREDINHOS 

Os escaninhos são usados pelas crianças do Maternal 3, Grupo 1 e Grupo 2, que ocupam a casa da frente. Antes deles, elas traziam mochilas com toalha, várias mudas de roupa, um chinelinho extra e outros objetos. “Mochilas são um problema, porque ficam amontoadas, são pisadas, são mal cuidadas, não tem lugar para colocá-las”, observa Dri. Há também a questão do consumismo. “A cada ano é uma mochila nova, são mochilas cada vez maiores, que não cabem dentro do escaninho. Uma coisa desnecessária e que a gente insiste em marcar, porque as pessoas acabam esquecendo e achando que é uma necessidade.”
 

O escaninho livrou as crianças desse peso diário, elas passaram a carregar só uma bolsinha com a caderneta. Em torno dele criou-se um ritual: quando as crianças mudam de turma, escolhem o nome dela e marcam o novo escaninho com seu nome; quem sabe escrever, escreve, quem sabe desenhar, desenha. “Tem uma coisa de valor íntimo, do privado, dentro de uma casa em que tudo é coletivo. E isso é muito importante pra eles”, explica Dri. “E aí tem um outro aprendizado: no escaninho só mexe o dono.”
 

Levar coisas de casa para o Clic! e vice-versa é hábito das crianças. “As famílias contam que às vezes eles chegam com brita, folha, e que não podem jogar fora, têm que ficar guardadas, eles vão ver se está lá ainda. Tem um menino que todo dia enche os bolsos de grama do Clic!. É uma tentativa de aproximar esses dois universos importantes pra eles”, observa Dri.
 

Nesse guardar e transportar coisinhas, a criança expressa sua simplicidade. “Elas tratam com o que é deste espaço, e o que tem aqui é isso, a folha que cai da árvore, os gravetos... Tem muita coleção de gravetos nos escaninhos, muita folha. Tem papeizinhos em que eles põem seus segredinhos e dobram de um jeito especial”, conta Dri. Uma vez, uma turma, a Turma da Ideia, teve um escaninho coletivo. Era o “escaninho secreto”, que eles trancavam com araminho e só eles mexiam. Vários “tesouros” foram guardados lá.


NO RITMO DO CORAÇÃO

A casa das crianças menores está cercada por um murinho, com portãozinho, e é precedida por um pátio pequeno, onde há mais uma grande mangueira. Do lado está a casa onde moram João e sua família. Os fundos do Clic! fazem divisa com uma escola, que também tem árvores, e pelos galhos, muros e telhados transitam ágeis micos-estrelas.

As crianças da “casa de trás” têm sala – uma sala comprida, para o Maternal 1, e duas salas menores, para as duas turmas de Maternal 2. “Os pequenininhos precisam dessa sala de referência”, explica Dri. Nela, eles guardam a mochilinha, o sapato, fazem xixi no peniquinho, trocam a fralda – na sala do Maternal 1 há grande quantidade de fraldas e lenços umedecidos. Se estão com sono, é no colchão da sala que eles dormem.

Do lado das salas há um galpão e banheirinhos. No galpão, as crianças fazem suas refeições, em mesinhas de plástico. A faxina é praticamente contínua. Depois de cada atividade no pátio ou no galpão, as crianças voltam para a sala.

“Como são muito pequenas, o espaço é um desafio pra elas”, observa Dri. “Por isso elas estão lá atrás. O espaço da casa da frente, muito grande, é ameaçador. Com muitas crianças é mais ameaçador ainda. Elas precisam de um espaço menor pra dominar, ficar à vontade e conseguir construir seus conhecimentos.”

O Clic! nunca teve mesa com cadeira para a criança fazer atividade. “As crianças muito pequenas usam muito o chão, naturalmente. Primeiro, elas engatinham, depois, mesmo quando estão andando, fazem as coisas com mais facilidade no chão”, explica Dri.

Nessa idade, a sala ajuda a reorganizar as crianças. Ao chegar, elas precisam ser acolhidas num lugar fechado. Guardam a mochila. Se está fazendo muito calor, tiram o calçado, aprendem a colocá-lo na sapateira. Depois de se organizarem, podem sair para brincar. Quando saem, é uma brincadeira que expande muito. Correm, brincam de bola, caem, machucam, lavam machucado, um toma brinquedo do outro, choram, educador acode... Cansam, precisam se recolher de volta, beber água, voltar à respiração normal, até conseguirem fazer outra coisa. Eles só vão fazer isso com ajuda do espaço, têm de se recolher no espaço.

Essa rotina dos pequenininhos é organizada no movimento de pulso: expande, reorganiza, vem outra expansão, volta, recolhe, reorganiza. “É um movimento orgânico que a gente aprendeu com eles. No começo a gente não percebeu que era assim, a gente pensou uma rotina e ofereceu.”, conta Dri. “Fomos vendo que esse movimento é o da batida do coração, da respiração, um movimento que atende plenamente a criança, em que ela não fica exausta, nem muito agitada, por estar trancafiada dentro da sala o tempo todo.”

A rotina que o Clic! põe em prática consiste basicamente em alternar uma atividade expansiva, motora, com a volta à sala. Não é possível contar uma história para crianças de um ano no pátio, depois que elas jogaram bola. Não é porque elas não têm concentração, é porque elas precisam de um tempo para voltar para o eixo. E depois de um tempo brincando num lugar fechado, elas precisam sair de novo. Isso não significa necessariamente que a brincadeira vá mudar. Elas brincam de boneca no pátio, mas o espaço aberto promove umas coisas e o espaço fechado, coisas diferentes.

Entre dois e três anos, a criança começa a fazer vínculo com o outro e deixar um pouco os vínculos com os objetos. Ela tira a fralda, larga a mamadeira, larga o bico; abandona o ursinho ou o cobertorzinho no qual vivia grudada e procura o amigo. “A gente vê muito essa diferença, no limite do Maternal 2”, conta Letícia. “No começo do ano, a criança chega com a mamadeira na mochila, com o copinho, com o objeto com o qual tem afinidade, só dorme com o cobertorzinho, com o travesseirinho. No final do ano, ela já chega perguntando: ‘O Fulano taí? Meu amigo já chegou?’ Aconteceu essa mudança, ela passou a enxergar o outro, quer fazer amizade. Ainda não tem muita competência pra isso, resolve as coisas ainda brigando, dá muitas mordidas, muitos tapas, mas começa a caminhar nesse sentido.”

Enquanto estão no Maternal 2, as crianças visitam a casa da frente muitas vezes, principalmente no segundo semestre; conhecem as regras da casa, aprendem a circular por ela. Ficam um pouquinho e depois voltam para a casa de trás, para o ambiente onde se sentem seguras. Quando mudam para a casa da frente, no Maternal 3, elas carregam muito menos objetos e já formam uma turma. Têm três anos completos ou estão perto de completar, já são capazes de dizer: “Eu gosto disso, não gosto daquilo, eu quero isso, não quero aquilo, eu não gosto de verdinho, não põe no meu prato, por favor.” Têm controle de esfíncter, sabem comer sozinhas e estão começando a dividir brinquedos, começando a brincar juntas.


AGENDAS E CADERNETAS 

A necessidade diária de comunicação entre família e Clic! é suprida por agendas e cadernetas. “As crianças de um e dois anos, como são muito pequenas, não sabem dar notícia das coisas, e os pais precisam controlar o funcionamento do organismo, se evacuou, se urinou, se comeu bem, qualquer modificação na rotina é importante”, explica Dri. “Pra essas crianças, de Maternal 1 e 2, a gente tem as agendas.”
 

As agendas têm um impresso que as educadoras marcam diariamente e dão notícia do funcionamento do organismo, da alimentação, se dormiu... Além disso, dão notícia daquilo que foi mais significativo para a criança no dia, por exemplo: adorou brincar de bolinha de sabão, gostou muito de determinada história ou determinada música.
 

Para as crianças da casa da frente, a agenda foi substituída pela caderneta, que mantém a possibilidade de diálogo diário, mas também incentiva a criança a dar ela própria as notícias do dia e se organizar. “A primeira pergunta que os pais fazem quando buscam o filho é: ‘Que você fez hoje?’ Tem criança que fala assim: ‘Nada’. Não abre a boca. Tem criança que é o oposto, repete o dia todo, canta as músicas, brinca das brincadeiras que aprendeu, faz tudo junto com a família”, relata Dri. “Qual a utilidade da caderneta? Se acontecer alguma coisa diferente, estará anotada. E as famílias podem mandar seus recados.”


ESPAÇOS PREENCHIDOS COM IDEIAS 

Numa manhã de setembro, a Turma da Girafa (Maternal 2) recebeu a visita da Turma da Aventura (Grupo 2), que foi convidá-la para conhecer a casa da frente. A atividade foi combinada na roda. No ano seguinte, essas crianças iriam descer, por isso começavam a se adaptar ao futuro espaço. Cada criança maior deu as mãos a duas menores e desceram todas juntas, acompanhadas das suas educadoras. As quatro meninas que formam a Turma da Aventura mostraram aos pequenos cômodo por cômodo da casa da frente e explicaram “o que vale” e “o que não vale” fazer em cada um.

“A descida para a casa da frente é uma conquista”, ressalta a educadora Carol Maciel. As crianças que descem ficam satisfeitíssimas de estar no mesmo espaço das crianças maiores. É como se dissessem: “Eu já cresci, agora eu guardo minhas coisas sozinho, calço meu sapato sozinho, se eu quiser beber água, eu vou lá no armário, abro a porta, pego o copo, encho, bebo o tanto que eu quero”.

Como um pedacinho da sociedade, a casa se organiza para que os vários grupos, de várias idades, convivam. “Não é só a arrumação do espaço, guardar as coisas, cuidar do material”, explica Letícia. “É também respeito, passar em silêncio para não atrapalhar uma turma que está ouvindo uma história, ou sentar pra ouvir também, pedir licença, perguntar se pode ficar. Se uma turma chega ao pátio e tem outra brincando, as crianças reorganizam a brincadeira pra caber todo mundo.”

A casa da frente tem sete cômodos, fora banheiro, e apenas um deles é administrativo. Não há salas de aula. “O Clic! não tem sala de aula porque não tem aula”, esclarece Dri. “A gente costuma falar que a sala de aula é a casa toda.”

Cada cômodo é ocupado de uma forma. A sala principal é a “sala de almofadas”, onde ficam toquinhos, pneus, fantoches, instrumentos musicais, instrumentos de massagem e um aparelho de som. Na vidraça do armário está colado um aviso escrito em letras maiúsculas irregulares, com o esse invertido. Diz: “Encontramos instrumentos estragados e consertamos. Por favor, cuidem bem dos instrumentos. Turma da Imaginação”.

“A sala de almofadas é um espaço muito interessante, porque de mobiliário não tem nada. Não tem mesa, não tem cadeira, só tem as almofadas, e como é grande, muitas coisas acontecem lá dentro”, conta Dri. Em 2008, o Grupo 2 a transformou em barco. Tinha capitão, piratas, gente de toda espécie.
Todas as “viagens” do grupo eram feitas lá.

Durante muito tempo, na sala de almofadas aconteceram oficinas de massagem. Uma vez por semana crianças de um grupo se deitavam ao som de música relaxante e praticavam massagem umas nas outras, passando óleos aromáticos. “A massagem ajuda a criança a olhar o outro, perceber o corpo do outro, ter cuidado com o outro, medir a força com que toca o outro, respeitar o outro”, explica Juliana Fonseca, que, antes de se tornar educadora do Maternal, foi arte-educadora de massagem.

A oficina foi interrompida em 2008, mas a massagem se tornou uma prática da casa. De vez em quando uma criança ou um educador sugere a massagem e lá vai a turma para a sala de almofadas. Às vezes, quando as crianças maiores querem brincar com os pequenininhos, elas propõem: “Vamos fazer massagem nos bebês?”.

A “sala de fantasias” tem esse nome porque nela fica uma arara repleta de fantasias e acessórios de vestuário. Mas ela também tem bonecos de pano, caminhas, carrinhos, panelinhas, xícaras, colheres, caminhões de madeira. Muitas vezes a brincadeira é vestir e tirar fantasia. Outras vezes as fantasias motivam brincar de teatro: a educadora conta uma história, as crianças representam, ou elas mesmas inventam histórias e representam. Outras vezes brincam de casinha, usando as panelinhas. Ou então pegam os bonecos e vão brincar com eles em outro lugar.

Um quarto da casa virou brinquedoteca, onde ficam brinquedos estruturados: jogos de raciocínio e de memória, brinquedos de montar. “Eles sempre vão lá brincar com esses brinquedos. Não que a gente imponha isso, eles têm essa necessidade”, conta Dri. Em outro cômodo está a biblioteca, com mesas baixas, cadeiras e muitos livros. As crianças vão lá para pesquisar um assunto levantado na roda ou para ouvir uma história ou simplesmente para folhear os livros.

Há ainda a copa, com mesa e bancos, onde as crianças gostam de desenhar, e a cozinha, com filtro d’água e pia para lavar vasilhame – as refeições são preparadas numa cozinha maior, na casa da Maria e do João, reformada e organizada segundo as normas da Vigilância Sanitária.

Um dos critérios para montar a casa foi não preencher os espaços, para que eles possam ser preenchidos com ideias. “A gente acha que isso é muito mais rico e produtivo do que montar um circuito de brinquedos de plástico no pátio. Pátio é pátio, a criança pode trazer bola, corda, patinete, patins, um giz, uma folha, uma pedrinha...”, observa Dri.

São os espaços que orientam a rotina do Clic!, cada lugar propõe uma brincadeira. A casa oferece muitas descobertas e possibilidades. Quando a criança chega num espaço que tem determinadas coisas, estas coisas a convidam a construir uma brincadeira ali. Isso não significa que a brincadeira tenha de acontecer naquele espaço: a mudança de espaço pode ser desafiadora. “Não é porque tem uma biblioteca que eu só posso ler livros lá. Num dia de calor, posso ler livros debaixo da jabuticabeira, posso contar uma história no galpão.”

As atividades mudam com o clima. No frio, as brincadeiras são muito mais de ficar juntinho, de contar história, de cabaninha, de acender vela, de fazer fogueirinha. Tem muita brincadeira corporal, de pegar, de abraçar, de rolar, de esconder, todo mundo junto, todo mundo num lugar. Na época de calor ninguém se lembra disso; lembra-se da água, da horta, do barro.

Quando está chovendo, as crianças inventam coisas para fazer dentro de casa; quando está quente, ficam muito mais fora de casa do que dentro. De manhã é muito bom brincar ao sol, mas do sol da tarde todos fogem. Um dos lugares preferidos é o “pátio de areia”, o corredor lateral, do lado oposto ao galpão. A criança vai brincar no pátio e pede panelinha para pôr água, vai brincar de areia e tem mais água do que areia. Cada hora é uma baciinha de água que entra no pátio, porque o calor pede isso. “Eles ficam pelados quase que o dia todo, já chegam tirando o sapato, passa um pouquinho tiram a blusa. E a gente entende que é isso mesmo”, conta Dri.

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